quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A oposição, que prometia salvar o Brasil, pode cavar sua própria cova mais rápido do que imaginava.


Por Angelo Remédio Neto
O momento político atual talvez seja dos mais complexos de que temos notícia nos últimos anos. Vivemos uma espécie de terceiro turno constante e ininterrupto das eleições presidenciais. A oposição ao Governo Federal tenta esticar, de maneira cada vez mais artificial, a crise política, que acaba sendo capitaneada e fomentada pelos grandes meios de comunicação.
Em um cenário onde a política cada vez mais é contestada pelas pessoas, que cada vez menos se sentem representadas pelos seus representantes, a descrença se torna generalizada.
A oposição entende este processo de maneira equivocada, erra ao tentar creditar esta grave crise de representatividade ao Partido dos Trabalhadores de maneira quase única e exclusiva. Busca fortalecer no imaginário popular que apenas alguns cidadãos, geralmente de esquerda, possuem desvios éticos e se tornam corruptos.
Os fatos, entretanto, cada vez mais desmentem e dificultam a consolidação desta estratégia. A oposição, que prometia salvar o Brasil, pode cavar sua própria cova mais rápido do que imaginava.       
Celebramos a pouco 25 anos da ‘constituição cidadã’, tida no meio político e acadêmico como marco de encerramento de um período autocrático e de triste memória. Nossa história caminharia quase que tranquilamente para um momento em que predominam as liberdades políticas, civis e sociais.
Talvez desde a promulgação da Constituição nossa ordem institucional não correu tantos riscos de abalos. Ficou claro, desde o início do 2ª mandato da Presidenta Dilma Rousseff que o resultado não teria sido bem aceito pela direita conservadora e neoliberal.
Motivos para isto não faltam, como o ranço que se forma gradualmente no pensamento político mais conservador depois da 4ª vitória consecutiva do Partido dos Trabalhadores; a diferente maneira de se lidar com o pré-sal e o grande interesse aqui representado, e também; o próprio candidato vencido nas urnas, o Senador Aécio Neves, cuja personalidade dispensa maiores comentários.
Desde o início, o segundo mandato Dilma é sistematicamente contestado. Agem de maneira simultânea os parlamentares da oposição ao Governo, os órgãos repressivos da Polícia Federal e do Judiciário e, principalmente, dando uma voz uníssona e buscando consolidar de maneira unificada a opinião pública, a grande mídia. Operações da Polícia Federal foram espetacularizadas, ao mesmo tempo em que descartavam princípios básicos do Estado Democrático de Direito, com grande respaldo midiático, que de alguma forma pretende se transformar em respaldo popular.
O ano se inicia com uma grande ofensiva da oposição. A mídia corrobora, dando manchetes constantes sobre corrupção com um viés muito claro, buscando concentrar seu poder de fogo no Partido dos Trabalhadores. Operações que tiveram por maioria de acusados parlamentares de outras legendas, ou parlamentares não petistas acusados de corrupção na mesma ‘Lava Jato’ raramente ocuparam um local de destaque nos jornais.
A política brasileira possui peculiaridades que não podem ser ignoradas. Não somos, por exemplo, dados a uma constante de conflitos, sejam eles políticos ou ideológicos. Uma breve análise mostra que foram curtos os períodos em que a sociedade se encontrou em um grande nível de polarização. Ou se desrespeitou a institucionalidade buscando, ao mesmo tempo, um respaldo das massas populares, ou, por cima destas massas, se realizaram grandes pactos políticos e sociais conciliadores de interesses.
Apesar da situação extremamente complicada que passamos, nossa democracia tem se mostrado não tão frágil como se pensa, ou como se quer fazer crer. O mundo passa por sérias dificuldades econômicas. Não há dúvidas.
Chegamos a um momento, entretanto, que a crise política inicia a gerar mais efeitos danosos a nossa sociedade do que a crise econômica. Estamos em outubro, com uma importantíssima decisão do STF no dia de ontem que diminui a possibilidade de um Impeachment no Congresso Nacional.
O sistema político não é, há muito, representativo. Não representa as mulheres, os negros, os jovens, os LGBTs, os índios. Há, pode se dizer, poucos perfis contrastantes de parlamentares em nosso Congresso.  Em uma situação de crise econômica, o sentimento de rejeição à política tende, quase que naturalmente, a se potencializar nos mais distintos espaços.
Inicialmente, pela própria atuação dos meios de comunicação, e por ser o partido em mais evidencia hoje em nosso país, as críticas caem massivamente sobre o PT. O partido se torna, rapidamente e de forma largamente exagerada, o sinônimo de degeneração e corrupção em nosso país.
Aqui, talvez, se encontre o maior equívoco da oposição. Em uma visão que se mostra extremamente obtusa, acabam por julgar um sentimento de rejeição à política que se torna cada vez mais forte em nosso eleitor em uma rejeição ao Partido dos Trabalhadores.
Querem que acreditemos que nosso problema não é de ordem estrutural, mas sim de ordem ético-moral. Buscam se alçar constantemente como defensores de uma moral vaga e que pouco tem a dizer de fato.
A população, ao passar do tempo, e não enxergado soluções positivas para nossa crise, pode muito bem se cansar desta, querer estabilidade, não esperar uma bomba no jornal todos os dias.
As denúncias que ocorreram na semana passada contra o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – um dos maiores articuladores do golpe – coloca em forte evidência esta tese. A população, em sua maioria, não se sente representada por Eduardo Cunha. Não se sente representada por Aécio Neves – ou este seria talvez nosso Presidente.
Tendo a acreditar que temos sim um grande descontentamento da população em face do Governo Federal. Descontentamento que não deve ser negado, e sim questionado, problematizado, e superado.
Entretanto, cada vez mais, com uma incerteza no horizonte, com o surgimento de denúncias constantes contra parlamentares de diferentes partidos, apesar de enfoque midiático diverso, o eleitor passa a alimentar sua total desilusão com o sistema político brasileiro.
Até que ponto, acredita a oposição que a crise do nosso sistema político é uma crise do nosso governo? Até onde, portanto, vai o capital político dos golpistas? Se seguirem nessa empreitada, terão um apoio uníssono da população para empoderar Aécio Neves e Eduardo Cunha? Se não o tiverem, vão tentar assim mesmo? Tendo a crer que não.
Fonte;democraciaeconjuntura . com 

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